A alfabetização, embora frequentemente entendida de maneira limitada como uma simples decodificação de sons e símbolos, vai muito além disso. Alfabetizar uma criança é proporcionar-lhe o ingresso em uma das maiores expressões culturais da humanidade: a escrita. No entanto, para que esse processo seja efetivo e enriquecedor, é crucial repensarmos o conceito de alfabetização. Não se trata apenas de uma habilidade técnica, mas de um processo cultural, que permite à criança participar ativamente do mundo que a cerca.
Historicamente, trataram a alfabetização como uma tarefa estritamente escolar, destinada a um período específico da vida, geralmente na primeira infância. Por muito tempo, restringiram o processo de alfabetizar ao ambiente escolar, encarando-o como uma fase que, uma vez “cumprida”, prepararia a criança para outras aprendizagens. No entanto, hoje compreendemos que a alfabetização é um processo contínuo, que se dá não apenas na escola, mas em diversos espaços sociais e culturais.
Essa visão tradicional da alfabetização também estava alinhada a uma concepção limitada da própria infância. Até certo ponto da história, não viam as crianças como sujeitos de direito, nem as consideravam produtoras de cultura. Felizmente, essa visão mudou. Hoje reconhecemos as crianças como sujeitos culturais e herdeiras da própria cultura. E, como a escrita é um objeto cultural de extrema importância, todas as crianças têm o direito de se apropriar desse instrumento linguístico.
Alfabetizar uma criança é permitir que ela se aproprie de uma herança cultural importantíssima. A escrita não é apenas um código a ser decifrado, mas um meio de expressão, de comunicação e de interação social. Quando falamos em alfabetização, não podemos nos restringir à simples decodificação de sons, mas devemos compreender a leitura e a escrita como elementos fundamentais do universo cultural da criança.
É essencial que o processo de alfabetização respeite a criança em sua totalidade, oferecendo experiências ricas e diversificadas que os ajudarão a construir suas próprias hipóteses sobre a escrita. O direito à infância está intimamente ligado ao direito de ser alfabetizado, mas essa alfabetização precisa ser especializada como um processo que respeita o ritmo e a singularidade de cada criança. Não deve ser uma imposição mecânica, mas sim um convite para que a criança explore, descubra e reflita sobre o mundo tanto da leitura como da escrita.
Ao refletirmos sobre a alfabetização, uma preocupação recorrente entre educadores e pais é o impacto que o processo de aprendizagem da escrita pode ter no desenvolvimento psíquico das crianças. Contudo, o que pode realmente comprometer o desenvolvimento infantil não é a alfabetização em si, mas a forma como esse processo é reduzido a um amontoado de sons que precisam ser transcodificados.
Crianças são naturalmente curiosas e ávidas por novos conhecimentos. Quando o processo de alfabetização é imposto de maneira rígida, essa curiosidade pode ser inibida, transformando o aprendizado em uma tarefa árdua e sem significado.
Por outro lado, quando as crianças são inseridas em situações de aprendizagem significativas e contextualizadas, elas se sentem mais motivadas e aptas a absorver esse conhecimento de forma natural e prazerosa. Alfabetizá-las respeitando seu ritmo e suas necessidades não é apenas possível, mas também essencial, proporcionando experiências que incentivam a criatividade e a participação ativa no mundo ao seu redor.
O ingresso na cultura do escrito é um direito de todas as crianças, e isso deve ser assegurado desde a educação infantil. Na prática, isso significa criar situações em que a escrita apareça como uma ferramenta útil e interessante no dia a dia. E, ao contrário do que muitos podem pensar, essas situações não precisam ser complexas ou formais. Elas podem (e devem) fazer parte do cotidiano da criança, sempre de forma lúdica e interativa.
Por exemplo, atividades como elaborar um convite para um evento na sala de aula ou escrever uma lista de compras para um projeto, são excelentes oportunidades de alfabetizar de forma contextualizada. Além disso, a cópia de receitas ou o registro de acontecimentos importantes, como feriados ou passeios, também são maneiras de introduzir a escrita de forma natural e significativa.
Outro ponto importante é o papel dos adultos nesse processo. Ao lerem para as crianças, eles estão não apenas transmitindo histórias, mas também mostrando como a escrita funciona no mundo real. Da mesma forma, ao autorizarem as crianças a “escreverem” por si mesmas, mesmo que de maneira não convencional, os adultos estão promovendo reflexões importantes sobre o sistema de escrita.
Uma preocupação válida de muitos pais e educadores é como equilibrar o processo de alfabetização com outras experiências fundamentais da infância, como o brincar e a interação social. No entanto, essas atividades não são mutuamente exclusivas. Na verdade, elas se complementam.
O brincar é uma forma livre de expressão que contribui diretamente para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. A interação com os outros, por sua vez, promove a construção de vínculos sociais e o aprendizado de normas e valores culturais. Quando a alfabetização é inserida nesse contexto, ela deixa de ser uma tarefa isolada e se torna parte de um conjunto mais amplo de experiências significativas para a criança.
Ao permitir que as crianças explorem a escrita em situações reais e práticas, estamos garantindo que elas tenham uma formação rica em experiências, que as preparem para participar ativamente do mundo em que vivem. A alfabetização, nesse sentido, não é um processo isolado, mas parte integrante da formação integral da criança.
Na Gênesis, compreendemos que alfabetizar vai muito além de ensinar a escrever. Entendemos que as crianças têm direitos, são ávidas por aprender e, principalmente, são capazes de se apropriar da cultura escrita de maneira reflexiva e crítica. Para isso, garantimos que elas tenham acesso a situações didáticas significativas, que as motivem a explorar e a refletir sobre este processo.
Atividades, como elaborar convites, registrar títulos de livros ou acontecimentos importantes, e participar de momentos em que os adultos pratiquem a leitura e a escrita com elas, são parte fundamental desse processo. Acreditamos que, ao proporcionar essas experiências, estamos assegurando que as crianças avancem em suas hipóteses sobre a escrita e, ao mesmo tempo, sintam-se empoderadas.
Alfabetizar é um direito essencial das crianças, que deve ser assegurado desde cedo de forma contextualizada e significativa. A escrita, como elemento central da cultura, é uma ferramenta poderosa que abre portas para a criança atuar e se manifestar na sociedade. Quando entendemos a alfabetização como um processo cultural e reflexivo, não apenas ensinamos a ler e escrever, mas também fortalecemos a criança como sujeito ativo e parte integrante da cultura ao seu redor.
Por isso, ao pensar em alfabetização, é essencial lembrar que estamos falando de algo abrangente e significativo, e não apenas a decodificação de sons e letras. Estamos falando de um direito fundamental das crianças, que se desenvolve por meio de experiências concretas, permitindo reflexões sobre o sistema de escrita, avançando em suas hipóteses e conceitualizações.
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